sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Uma história de quase amor.



Fazia algum tempo que eu não ia ao meu lugar especial.
Afinal, ele fora corrompido. Corrompido por mim mesma. Nunca deveria ter o levado lá.
Mas eu já não agüentava mais, a solidão do meu quarto. Precisava da solidão de outro lugar.
Caminhei até lá pesada, passos arrastados. Todo meu corpo doía. Principalmente meu coração.
Quando lá cheguei, quis morrer. Primeiro pensei que era uma visão. Depois que realmente notei que era real, quis sumir, cair em um buraco profundo pra sempre.
A vontade de correr, chorar e respirar era enorme. Mas não conseguia fazer nenhum dos três. Fiquei lá parada, olhando pras unhas dos meus pés, que já não eram feitas há um tempo. Assim como meu cabelo não era arrumado, meu rosto não era maquiado, e meu perfume já não era mais usado.
- Até que enfim. – disse ele se levantando, e caminhando até mim.
Não respondi.
- Pensei que você nunca mais iria aparecer. Venho aqui todos os dias, há semanas e nada de você.
- Por quê? – Essa pergunta não era feita apenas pra saber porque ele estava ali, no meu lugar, me esperando. Mas pra saber de tudo. Um contexto geral. Por quê?
- Ué, você não atende minhas ligações, sua mãe não me deixa te visitar. Eu precisava falar com você. Te explicar coisas.
Rolei os olhos, e virei as costas. Com muita dificuldade.
- Espera. – ele tocou meu braço, e eu senti todo meu corpo formigar, arder. E meu coração se tornou em chamas. – Não vai.
- Já não basta?
- Não basta o quê?
- Tudo.
- Tudo o quê?
- Tudo o que você me fez, tudo o que me fez sofrer. Você quer mais? Já não basta me matar, ainda tem que chutar meu corpo caído?
- Desculpa.
- Não é o suficiente.
- O que seria suficiente?
- Que você sumisse, desaparecesse. Pra sempre.
- Mas eu não posso, você sabe.
- O que te impede?
- Você.
- Eu?
- Sim. Eu preciso de você. Preciso de você do meu lado.
- Por quê? Você já tem ela.
- Mas eu preciso de você.
- Egoísta.
- Eu sei. E você também sempre soube que eu era.
- Você nunca mais vai me ter ao seu lado. Nunca. Você fez uma decisão errada, e agora deve arcar com suas conseqüências.
- Eu fiz uma decisão errada? Você que fez!
- o que?
- Sim, você que se apaixonou por mim. Não tive culpa nenhuma.
- Cala a boca.
- Não. Eu não vou te perder por isso. Você também não teve culpa, mas aconteceu. Agora eu preciso de você do meu lado. E você precisa de mim.
- Você é o garoto mais ridículo que eu conheço.
- Mas você gosta de mim justamente por isso.
- não, eu gostava de você por que eu era idiota. Acreditei em uma farsa que eu mesma criei. Você nunca foi meu amigo. Nunca se importou. Nunca me amou.
- Mentira, eu te amo. Só não é do jeito que você quer.
- Que seja. Não é do jeito que eu queria, que eu precisava, então pronto, terminamos aqui.
- Não.
-Sim.
- Você não pode fazer isso comigo. Eu não tive culpa de não te amar como você me ama. Eu quis. Não deu. Desculpa. Mas você é parte da minha vida. Você é minha vida. minha melhor amiga, eu preciso de você comigo.
Minha voz não conseguiu mais sair contida. De repente me vi gritando.
- SIM VOCE TEVE CULPA. TUDO É CULPA SUA. VOCÊ É MAU.
- por que eu sou mau?
Respirei fundo, tentando acalmar as batidas do meu coração, e o meu corpo todo que tremia. As lágrimas começaram a rolar.
- você pegou na minha mão todos os dias. Você enxugou minha lagrimas. Você dançou comigo em todas as festas. Meu melhor amigo. Tudo bem. Mas você me olhava da maneira errada, você me beijava de vez em quando, dizia que ia casar comigo. E ainda diz que a culpa é minha, por ter entendido errado?
- Desculpa.
- Já disse que não é o suficiente.
- Vai ter que ser.
Ele me abraçou. Eu afundei a cabeça em seu peito, e chorei.
Era aquilo que faltava, o conforto que faltava. O conforto que ele me proporcionava. Quem me machucou era quem precisava me consolar.
- Vai passar.
- Eu sei que vai.
- Eu vou te ajudar.
- Eu sei que vai.
- Você vai ver daqui a um tempo a gente nem vai mais lembrar que isso aconteceu.
- Não.
- E a gente vai poder a ficar todo tempo juntos como era.
- Não.
Ele me afastou, e olho no fundo dos meus olhos.
- Não?
- Não.
- Por que não?
- Eu vou embora.
- Como assim vai embora?
- Vou morar com meu pai na cidade.
- Você não pode.
- Eu preciso.
- Tá bom, eu não te procuro mais. Nunca mais. Eu não te ligo, não venho aqui, nem na sua casa. Eu nem olho pra você na escola. Mas por favor, não vai.
- Eu preciso ir. Eu preciso me recuperar. Me encontrar. Colocar meus pedaços de volta nos lugares.
- Eu coloco pra você.
- Não dá. Preciso fazer isso sozinha.
Ele começou a chorar.
- Esse é meu castigo?
- Se fosse eu faria muito pior.
- Eu te odeio.
- Não. Você me ama, só não é do jeito que eu quero.
Nós rimos. E nos abraçamos.
Eu fui embora uma semana depois. E demorei muito tempo pra voltar na minha cidade.
Quando retornei, não me encontrei mais com ele. Ele tinha se mudado pra outro país.
Visitei o meu lugar. Nosso lugar.
Encontrei uma placa, onde estava escrito: Você deve cavar aqui.
Cavei, e encontrei uma caixa de biscoito vazia. Não totalmente dentro tinha uma carta.
Dizia:

“ Querida,

depois que você partiu, comecei a compreender o sofrimento que eu infligi a você. Percebi, tarde demais, que te amava do jeito que você queria. Irônico não?
Meu coração doeu, cada ano, cada mês, cada semana, cada dia, cada hora, cada minuto, cada segundo desde que você se foi.
Pensei em te procurar, mas cansei de ser egoísta. Quando entendi sua dor, repensei meu modo de ser. Então deixei que você me esquecesse.
Quando a dor se tornou demais para agüentar, resolvi partir. Pra bem longe.
Espero que você esteja bem agora. Curada. E espero que quando você ler essa carta, eu também já esteja bem.
Na verdade, espero que você leia essa carta, e que ela permaneça intacta até que você retorne aqui. Espero que você retorne aqui.
Saiba que eu te amei demais, e me arrependi por tudo. Se eu pudesse voltar no tempo, tudo teria sido diferente.
Me perdoe por ter sido um idiota, e literalmente retardado.
Um pedaço do meu coração vai te amar pra sempre
Seu...”


Chorei ao saber disso, e ao pensar de quanto azar nós tivemos.
Depois pensei no destino miserável que nos pregou essa peça.
Nos amamos tanto, e nunca ficaríamos juntos.
Chorei ao constatar que um pedaço do meu coração o amaria pra sempre.

6 comentários:

Marcos de Sousa disse...

Belo texto. Infelizmente o coração é assim, não podemos controlá-lo.

Beijos

Camila Paier disse...

Que lindo, guria. Mexeu comigo. Acho que, muitos retardados passaram também pela minha vida. E eu amei a cada um deles da minha maneira, que não era a deles. Alguns voltaram, outros não. O bom é só saber que fizemos a coisa certa, com o coração. E aprendemos, assim como agregamos ensinamento ao outro, o que também é bastante benéfico.
Beijos, guria.

Marcos de Sousa disse...

Tem um selinho para você no meu blog. Depois passe lá para pegar.

http://omundosobomeuolhar.blogspot.com/2010/11/objeto-mulher.html

Beijos

Anônimo disse...

Lindo e triste. Passamos por tantas coisas na vida né?

Anônimo disse...

chorei, e não foi pouco. :/

Ruth Guedes disse...

Aí amiga chorei muito lendo isso, mais tá lindo !
bjos

Postar um comentário

 

Blog Template by YummyLolly.com